Joyce Diehl | Da crise a uma nova maneira de repensar o lar
Por Joyce Diehl
Joyce Diehl: A violência – seja de qual tipo for: do setembro fatídico às guerras atuais, desse mar quase infinito de pessoas deixando tudo para trás – fez e faz repensar sobre a necessidade que todos temos de uma casa, um abrigo, que vai muito além de teto e paredes. Junte-se a ela a violência dessa crise econômica com a qual não estávamos mais acostumados e vira fato: estamos mais caseiros.
As tantas violências, vistas e sentidas, fizeram com que voltássemos a valorizar nossa casa, a buscar lá nossa alegria, resgatar de energias, longe da vida lá fora. E neste primeiro passo, a comida, sempre a grande anfitriã, faz festa. Toda reunião acontece ao redor dela. A cozinha volta a ser o centro das atenções, espaço de reuniões, da boa conversa, do bom convívio, como nos tempos que hoje chamamos de bons. Deixa de ser lugar que lembra trabalho e ganha ares de lazer. E de novos talentos, ali bem mostrados. Novas pessoas se aventuram pelo mundo acolhedor da comida e a gastronomia ganha novas companhias. É onde se pratica melhorias. Decididamente, a cozinha volta ser a nova sala. Quem teve infância em casa de vó, sabe. Os velhos livros de receita saem das gavetas empoeiradas dos dias e ganham nova vida. As receitas das avós, das tias, ganham ares de novidade. De quebra, economia.
Violência e problemas na economia, quem gosta? Ninguém. Mas gosto de dizer que tudo tem seu lado bom. Voltamos a valorizar nossa família, nossos amigos, nossa herança de vida. Ver com bons olhos o que é nosso, coisas e sentimentos, de produtos brasileiros – até então preteridos – aos feitos ao lado ou em casa, ao feito por cada um de nós. Ressaltar o que temos de bom, enquanto país e enquanto pessoas. Cuidar das pequenas coisas, como reformar a roupa que se gosta e o sapato já confortável, colocar de volta na cama a manta guardada, o quadro pintado pela mãe, indo bem além da economia doméstica: um esbanjamento dessa história de vida que cada um tem para contar. E que não começou ontem.
Um consumismo que parecia sem freios, sendo repensado. A dificuldade da compra, entre o querer, o precisar e o poder. O rever de valores – e não só de preços, coisas bem diferentes. E um novo olhar: o de manter e renovar as coisas, manter a casa, cuidar do jardim, fazer uma horta, testar uma receita nova – ou bem guardada. Dar valor agora nos dá mais valor. Vira uma espécie de hobby – ou reconhecimento de nós – como fazer uma nova prateleira (quem sabe com uma escada e algumas tábuas de madeira?), colocar o tão esperado papel de parede, pintar a sala, arrumar a tranca da porta, pendurar quadros resgatados na última arrumação – e que nos trazem muito de bom… Pintar um quadro novo, descobrir um talento que não se sabia. Forrar a caixinha da infância com novos tecidos, usar novas cores na mesa do jantar, misturar cadeiras, tentar novo jogo de almofadas para se acomodar, quem sabe propor novos azulejos ou adesivar, por conta, os já cansados de se ver? Inspirar-se nos tantos programas da televisão que mostram isso: que somos capazes de pensar, criar, fazer. De que podemos transformar o mundo, sim, começando por dentro, começando na gente, começando no lar. Voltando a pensar que nossa casa é única, que somos únicos. E isso é que é o nosso real valor.
Saiba mais sobre Joyce Diehl
Joyce Diehl é a editora-chefe da revista eletrônica www.revestir.com.br, sobre acabamentos e tendências em arquitetura. O portal conta com colunistas como Ruth Fingerhut, Mon Liu, Verônica Fraga, Maria Alice Miller e Marisa Lima, cada uma de um setor, além de várias páginas especificas por assunto: Cerâmicas & Outros Revestimentos, Louças, Metais & Acessórios, Mix (um pouco de tudo), Iluminação, Têxteis, Mobiliário + Design, Tendências, Técnica ( produtos voltados à construção, com veio sustentável) entre outras. A revista eletrônica recebe uma média de 50 mil visitantes ao mês. E dobrou o número de visitas ao seu Blog por conta do relacionamento através do Facebook (um perfil , uma fan page e muitos assinantes), Pinterest e Twitter, fazendo a postagem “girar”. Além disso, Joyce mantém seus próprios perfis no Facebook, unindo literatura, decoração, arquitetura e design, somando, ao todo, entre amigos e seguidores, mais de 15 mil interessados.
(Imagem de: divulgação)